“Espírito Indomável”, um dos princípios do taekwondo, influencia equipes a vencerem barreiras e ajuda beneficiários na relação com as perdas

A pandemia do novo coronavírus tornou-se elemento obrigatório no planejamento das oficinas do Instituto Olga Kos, entidade sem fins econômicos que promove projetos voltados à inclusão social de pessoas com deficiência. Enquanto lida com protocolos criados para mitigar riscos e se adapta à realidade de distanciamento social, a equipe da instituição contou com um grande aliado para seguir impactando a vida de mais de 3 mil pessoas: a filosofia oriunda das artes marciais.

É o caso dos princípios do taekwondo, modalidade presente no projeto “Karatê e Taekwondo – Esporte é Inclusão II”. Direcionada a alunos com faixa etária entre 7 a 17 anos, a iniciativa social tem um total de 60 participantes em São Paulo e dez meses de duração, prazo que terminará neste ano.

“Um dos princípios do taekwondo é o ‘espírito indomável’ – ou seja, não importa o tamanho da barreira ou da dificuldade à sua frente. Não há desculpas, e esse projeto foi mais uma prova disso. Em meio a dúvidas e dificuldades, enxergamos algo que sempre esteve no nosso dia a dia. Podemos estar próximos a cada palavra, e cada mensagem faz diferença na vida das pessoas”, diz Ranniere Couto dos Anjos, 40, um dos instrutores de taekwondo no projeto.

“A necessidade de práticas esportivas é grande e traz enormes benefícios para a vida dos participantes. Quando percebem que possuem qualidades e os obstáculos podem ser superados, a vida de todos muda. A questão é que eles não encontram projetos como esse, que consegue unir mundos e vidas diferentes”, complementa.

O “Esporte é Inclusão II” iniciou atividades em novembro de 2019 e inicialmente seria presencial. Contudo, precisou se adaptar à nova realidade criada pela pandemia de Covid-2019 e criou uma mecânica de atendimento online.

“A grande descoberta foi a aproximação que conseguimos ter com os participantes e seus responsáveis através das aulas online e das gravações. No começo tínhamos a preocupação se eles conseguiriam acompanhar e evoluir com esse tipo de aula, e o resultado foi emocionante e indescritível. Uniu famílias e profissionais, mesmo à distância”, diz o instrutor. “Foi muito difícil abrir mão das aulas presenciais e do que estava fazendo falta para os participantes. Foi a hora de se reinventar e em grupos unidos conseguimos vencer isso com os trabalhos online e gravações de aulas para que ninguém fosse prejudicado. Foi um grande desafio e mais gratificante ainda é saber que deu certo”, adiciona.

A despeito de ter migrado para o online, o projeto proporcionou histórias incríveis. Uma aluna com má formação de membros inferiores e superiores, por exemplo, era alvo de desconfiança no início. “Todos achavam que ela não poderia praticar a modalidade, e o resultado foi fantástico a ponto de ela ajudar os demais praticantes”, relata Ranniere.

Outra beneficiária agradeceu ao projeto por ajudá-la a lidar com o luto. “Uma aluna perdeu a mãe, que tinha 57 anos, para a Covid. Ela disse que as aulas de taekwondo a salvaram e a impediram de cair em uma depressão”, finaliza o professor.