Mais de 160 páginas acolhem o leitor que se debruça em ‘Os caminhos da forma’, livro bilingue (inglês-português), escrito por Jacob Klintowitz, com edição do Instituto Olga Kos (IOK). A obra acompanha a trajetória da escultora Mary Carmen Matias. O lançamento será no dia 8 de junho (quarta-feira), às 19h, no Museu da Imagem e do Som (MIS). Na ocasião também será inaugurada exposição de mesmo nome em evento para convidados. A mostra abre para o público no dia seguinte e permanece em cartaz até 22 deste mês.

Mary Carmen, como ela própria e o autor do livro pontuam, é uma artista tardia. Professora de história, especialista em sociologia e consultora de empresas, entrou no mundo da arte escultórica quase sem perceber. Incentivada por artistas como Caciporé Torres e Nicolas Vlavianos e curadores como o próprio Klintowitz e Denise Mattar, mergulhou neste universo para criar suas próprias constelações. Desde 2008, ela vem construindo um sólido trabalho que já conquistou espaço em exposições individuais, coletivas e premiações. 

Mais recentemente, incentivada por Paulo Pasta, a artista tem se embrenhado também na pintura – entre tintas e metais, que assumem o papel de suporte e de elemento pictórico. 

Na primeira parte do livro, o autor traça uma antologia reflexiva e retrospectiva de sua obra. “Mary Carmen nos propõe questões sobre a forma na nossa civilização, a renovação do símbolo, as relações entre o concreto e o imaginário, a construção e a estrutura do psiquismo,” escreve ele. “Ao nos indagar, nos diz sobre o que constitui a linguagem da nossa época”, conclui.

Ela navega entre diferentes materiais como o aço, o alumínio, a resina e o mármore, forjando as suas formas de modo a quebrar a rigidez da matéria-prima. Ondulações e mesclas de texturas dão passo a figuras leves impregnadas de aura poética. As peças se transformam em asas, ou na estilização de uma mãe acolhendo o filho ou, ainda, em uma espanhola envolta em seu chale, entre outras. 

Para acompanhar e dissertar sobre o caminho percorrido por Mary Carmen, Klintowitz voa entre os pensamentos e a obra de outros artistas, como Tarsila do Amaral, Portinari, Bruno Giorgi ou Constantin Brancusi. Ele evoca músicos como Beethoven, pousa entre escritores e poetas como Jorge Luis Borges e Carlos Drummond de Andrade, e também aborda Friedrich Engels e outros. O autor fecha o livro com um perfil conciso da artista. 

As obras de Mary Carmen falam por si, na segunda parte de Os caminhos da forma. Elas chegam ao leitor nas imagens dos fotógrafos Christina Ruffato, Cláudio Wakahara, Fábio Zanzeri, Hélvio Romero, Ivson Miranda, Sheila Oliveira e do arquivo da própria artista. Os trabalhos percorrem o livro entre formas que comprovam a leveza e a harmonia talhada por ela nesses metais pesados. Por exemplo, a escultura Libertação, de 2018. Nesta peça, ela reúne e provoca a união do aço com o mármore para invocar, por fim, a leveza da liberdade que se abre para o observador. 

Klintowitz: “o equilíbrio e a elegância das esculturas de Mary Carmen Matias emocionam porque são capazes de mostrar o magnífico desenvolvimento da linha e a sua transformação em volume, a criação do espaço e o nosso envolvimento neste universo subitamente inventado.” 

Observar a natureza e transformá-la em obra de arte é o leit motiv de Mary Carmen Matias. Esta escultora, que se embrenhou no mundo da arte como quem não quer nada, é como uma alquimista capaz de subverter a solidez natural da matéria para algo leve e suave. 

Durante a pandemia, isolada com a família em sua propriedade em Itu, ela começou a olhar para o seu entorno de um novo modo e descobriu, na própria natureza, outras formas e texturas que antes não havia percebido no detalhe. Por fim, o seu olhar e interesse se detiveram nas pedras. É com mais esta matéria-prima natural que ela segue em suas experimentações e pesquisas para desenvolver sua poesia escultórica. 

Projeto

Este livro faz parte de A arte da leveza, projeto da artista em parceria com o IOK. Iniciado em 2021 é composto por oficinas de arte para pessoas com deficiência, com diferentes idades. Nestes encontros, os participantes reproduziram, na prática, os conceitos de Mary Carmen e elaboraram as suas próprias leituras sobre a obra dela, por meio de esculturas e pinturas.

“Me chamou a atenção que muitos deles, sem eu dizer, desenvolveram os seus trabalhos da mesma forma que costumo fazer: primeiro o desenho, depois o arame e, por fim, os materiais mais pesados”, conta ela “Vi ali muita sensibilidade e foi um grande aprendizado para mim.” Cinco dessas obras se juntam a outras 12 da artista para compor a exposição ‘Os caminhos da forma’ no MIS. 

Sobre o IOK 

Fundado em 2007, o Instituto Olga Kos (IOK) é uma associação sem fins econômicos, que desenvolve projetos artísticos e esportivos aprovados em leis de incentivo fiscal, para atender, prioritariamente, crianças, jovens e adultos com deficiência. Além disso, parte das vagas de nossos projetos é destinada a pessoas sem deficiência, que se encontram em situação de vulnerabilidade social e residem em regiões próximas aos locais onde as oficinas são realizadas. Desta forma, pretende-se possibilitar uma maior interação entre pessoas com e sem deficiência.